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As luzes de Alessandra Leão

03.02.22 - 15H17
Foto: Gabriel Bianchini/Divulgação

Foto: Gabriel Bianchini/Divulgação

Por Marcela Cavalcanti


A compositora, cantora, percussionista e produtora musical Alessandra Leão passou pela estrada do BR-101.5 em novembro de 2021 para contar um pouco sobre ACESA, álbum contemplado pelo Rumos Itaú Cultural. 

Alessandra falou profundamente sobre as vivências e encontros que impulsionaram a criação do disco, suas inspirações e experimentos. “Eu nunca tinha perguntado a Niltinho ou a Barachinha o que acontece com o espírito quando a gente tá no maracatu”, disse ela, se referindo a parte do processo criativo da websérie (também denominada ACESA) de 15 episódios em que entrevista mestras, mestres, músicos e líderes religiosos ligados às tradições do Coco, Ciranda, Maracatu de Baque Solto, Jurema, Umbanda e Candomblé. 


Confira um trechinho da conversa com Gabriele Alves:

Gabriele: Esse é o arremate desse grande projeto e que é tão bonito, o ACESA, e você criou ele a partir de encontros com grandes mestres da cultura. Queria que tu começasse contando pra gente o que mudou na Alessandra de antes pra Alessandra de depois do ACESA...

Alessandra: ACESA é um projeto de desejos muito antigos. Acho que o desejo mais forte que o ACESA me traz, que eu consigo consolidar na primeira etapa desse longo projeto que você falou, é a websérie com encontros. Eu trabalho com música há quase 25 anos, e a minha escola de formação (que não se forma nunca, tá sempre se formando) é a música tradicional, sobretudo a de Pernambuco, mas a do Nordeste. Eu sempre entendi que faz parte do meu trabalho falar sobre isso, explicar o que é, contar o que é, instigar mais pessoas a ouvir, conhecer, desmistificar vários preconceitos, exotismos e olhares que se tem sobre a música tradicional.

O ACESA vem de um desejo antigo que é não ficar só eu falando, porque por mais que eu... Pros meus amigos, pros meus alunes, eu consigo mostrar, né? “Ó, escuta Odete cantar”, ou “Mestre Ana do Coco, vamos falar de outras pessoas assim”, mostrar e abrir um pouco um repertório (eu faço muito isso nas minhas aulas já há alguns anos)... O ACESA me deu e me dá a imensa alegria que não sou eu a falar sobre quem é Odete ou quem é Barachinha. A gente não traduz quem é o outro, eu levo a minha visão sobre a arte, sobre a história, sobre a voz... Mas eu não levo o que é do outro. O ACESA me possibilitou esse lugar de dizer assim: “Vejam aqui, olhem, tá vendo aquela pessoa que eu falo aqui há mil anos? Escute aqui, veja que coisa profunda, veja que coisa maravilhosa”. (...) Então é isso, ACESA é esse bicho com muitas formas e muitos encaminhamentos.

Gabriele: Enquanto Alessandra tava falando tudo isso, eu me lembrei de uma analogia que Patrícia Palumbo, uma grande radialista que a gente tem no Brasil, sempre faz, que é essa colcha de retalhos que a gente costura quando a gente compartilha, quando a gente se encontra. O ACESA é essa grande colcha de retalhos de tanta gente que funda a nossa cultura. (...) Alessandra esteve aqui com a gente no BR-101.5 dentro do Passe Livre pra convidar todo mundo a ouvir o Borda da Pele, que foi o single que ela lançou antes, o que abriu os caminhos pro ACESA. Você falava muito nesse áudio sobre movimento, esse convite ao movimento e à nossa percepção, a nossa escuta própria do que é nosso, do que é do outro... E uma coisa que me pegou muito é quando cê fala sobre o movimento mesmo que ele seja pequeno, que mesmo que ele esteja na borda da pele ele é importante. ACESA também vem nesse lugar, Alessandra, de instigar quem ainda tá com medo dessa movimentação a começar?

Alessandra: Eu acho que ACESA vem num momento em que eu estava com medo dos meus movimentos e sigo com medo de vários deles, porque os medos são cotidianos. É democrático, o medo é um lugar democrático também. Mais ou menos, porque também é isso, dependendo de que lugar da sociedade você esteja você vai ter muito mais, né? Medos internos, medos existenciais são também lugares muito de todo mundo. E ACESA pessoalmente vem num momento de muitos dilemas, coisas muito profundas minhas. Ainda mais agora, com o processo da pandemia onde a gente também fica realmente tolhida do movimento. O movimento passa a ser muito pequeno. Como é que pra mim, por exemplo, um disco com um processo tão feito na rua, tão sobre a cidade, as cidades, tão sobre os deslocamentos no espaço urbano, tão sobre encontros, como é que eu podia produzir um disco no meio da pandemia à distância?
 

Quer continuar acompanhando essa conversa? Escute na íntegra clicando aqui! O #TBT101 é uma coluna em que toda quinta-feira vamos relembrar entrevistas que já rolaram na Rádio Pública do Recife. Sintoniza com a gente nas estradas da cultura!

Todas as faixas de entrevistas do BR-101.5 estão disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud).


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