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#TBT101: Violetas da Aurora no Hotel Central - Palhaçaria como um exercício para a vida

13.10.22 - 14H58
Violetas da Aurora
Foto: Divulgação
 


Por Johnny de Sousa

O fato de quinta ser quase sexta é bom o suficiente para estar fazendo esse texto me pautando na palhaçaria. No entanto, não é apenas este o motivo de estar levando a frente esse papo. Esta semana é das crianças, o que nos faz querer lembrar um pouco de como éramos na infância, além de ser, também, um exercício fundamental para termos um pouco mais de força a fim de enfrentar a vida com mais leveza. É necessário ser um pouco criança, de vez em quando, para que os nossos sentimentos mais profundos não caiam no esquecimento.

Muito desse nosso lado mais lúdico acaba caindo no meio da arte, onde conseguimos realizar uma parte de nossos sonhos mais selvagens e, de certa forma, sair dessa realização com grandes ganhos. No entanto, a jornada é árdua, necessitando de consolos e remédios para dor. Através da superação de dificuldades, aprende-se o que há de interessante nessa vida, qual caminho deve ser trilhado; assim como também há um enrijecimento da alma, aprendendo a não aceitar sossegado qualquer sacanagem como coisa normal. A palhaçaria, a comédia, é um exercício ácido para as provas da vida, no qual a leveza, ainda que não menos inofensiva, é a grande arma contra o cansaço da depressão. Isso nos faz sentir como crianças novamente. 

As Violetas já estiveram duas vezes na programação da Frei Caneca FM, em ambos os momentos recebidas por Gabriele Alves, apresentadora do BR-101.5. Neste #TBT101, lembramos da segunda vez que elas vieram ao programa, celebrando os seus cinco anos. Ana Nogueira (Dona Pequena) e Fabiana Pirro (Uruba) vieram à rádio para divulgar uma apresentação comemorativa no Hotel Central, símbolo do centro da cidade do Recife e grande monumento artístico, onde Miró da Muribeca morou e tanto declamou suas poesias. Dessa vez, no entanto, foi a vez das palhaças ocuparem um tão simbólico ambiente, que tanto dialoga com elas no meio da cidade e da arte.

Gabriele Alves: Vamos falar de tempo, pois são cinco anos de trajetória. Me contem como tá saindo comemorar uma data tão simbólica?

Fabiana Pirro: Eita, é muita estrada, muito aprendizado, muitos acontecimentos… Tenho que dizer que, nesse coletivo, cada uma aqui é fã da outra, cada uma se alimenta da habilidade da outra, então a gente tá nessa estrada há muito mais tempo do que só cinco anos. Falo isso porque já vínhamos nos acompanhando no meio do teatro, conhecendo o trabalho uma da outra e sempre se admirando, então já rolava uma paquera (risos). Resolvemos fazer o coletivo há cinco anos, mas o amor é bem mais antigo. Nesse tempo, resolvemos juntar nossas forças, sendo quatro figuras totalmente distintas e, através disso, nós vamos realizando sonhos, Gabi. Quando começa o ano, a gente já começa se perguntando “e aí, o que a gente quer??”, entende? O que a gente quer fazer, a gente faz, e essa força, essas mãos juntas, uma segurando a outra, faz as Violetas da Aurora pulsarem! A gente se move na alegria, na brabeza, na arte, na vida… Pois isso que é palhaçaria, é um exercício para a vida. 


Em meio a sua fala, Fabiana mencionou o principal mote das Violetas para essa data comemorativa: “Cinquenta Anos em Cinco”. Na festa de aniversário do coletivo, seria apresentada uma grande performance que iria representar tudo o que aconteceu desde 2017, ano da fundação do coletivo. Tal representação seria muito necessária para explicar o mote, que, segundo elas, surgiu a partir do momento em que perceberam que já tinham passado por um turbilhão de realizações. Ana Nogueira foi questionada sobre o significado deste mote e as conquistas das Violetas.

Ana Nogueira: São bodas de Pau e Ferro, né? Pois são cinco anos. Só que na festa, o que irá se comemorar é tudo que nos foi dado dentro desse período. Nós vamos fazer um mix do que fizemos nesses cinco anos, e quando a gente inclui os cinquenta aí é porque, de fato, aconteceu muita coisa. Um ano é como se fossem dez. Além de tudo, teve a pandemia, que foi um período de muita produção para a gente. Experimentamos novos formatos, fizemos muita coisa dentro do audiovisual… Se tivéssemos parado de produzir, talvez nunca teríamos entrado nesta seara! Fizemos uma série de três episódios, fechamos parcerias com diversos meios do teatro e do circo, desde a Escola Pernambucana de Circo até a Companhia Maravilhas, sendo tudo muito incrível. Parece até que foi um dia desses…

Gabriele: Quando a gente pensa no universo do teatro, do circo, acaba que a gente vê que rola muita ajuda entre esses universos, não apenas entre eles, mas dentro deles. Isso representa muito o senso de coletividade que vocês quatro carregam consigo, não é? Podem ter só duas dando entrevista, mas vocês são sempre quatro! Falem um pouco sobre isso.

Fabiana: É a necessidade da troca, mesmo. Mesmo quando a gente faz um monólogo, onde há só uma pessoa falando no palco, não estamos nunca a sós. A gente sabe que tem uma equipe grande trabalhando junto, e sabemos que nada se faz plenamente sozinho. Com as Violetas, a possibilidade que a gente tem de alternar entre quartetos, duplas, trios, se dá porque todas nós temos agendas intensas, então, dessa forma, ficamos com a possibilidade de adaptar o espetáculo. Isso nos possibilita um fluxo grande de produção e de experimentos, o que faz com que cada uma se ajude. Silvinha chega com poesia, Ana chega com palhaçaria, Maira chega com canto, eu com o teatro de bonecos. A partir disso, a gente aprende muito uma com a outra, nesse quesito de sempre entregar algo interessante. É sempre uma mistura de coisas, nunca são nossas particularidades, até porque o que a gente entrega não vem, necessariamente, do personagem, e sim , da gente mesmo. Tem muito da gente nas nossas personagens, elas têm nossa essência! Na palhaçaria é tudo misturado, tem um pouco da gente com a nossa criança, com a nossa brincadeira mais pura. Quando se é criança, a gente gosta de tá junto, de brincar e ter aquela arenga boa. É o que acontece com a gente, também. É o que nos move.


Diante das diversas reflexões sobre o que significa fazer parte de um coletivo tão especial, momentos emocionantes foram postos em pauta, tanto por Ana quanto por Fabiana. Ambas relembraram o momento em que se apresentaram em movimentos como a Virada Cultural do Teatro do Parque - uma manifestação pela finalização das obras e reabertura deste importante equipamento cultural - fazendo-as pensar em como nada que é feito com amor é feito por acaso, tanto que, logo mais, viriam a se apresentar com o teatro reaberto. Nesta entrevista, as Violetas iriam ocupar os terraços do Hotel Central, se voltando para um local que já abrigou diversos artistas. No passado, Carmen Miranda; no presente, Violetas da Aurora. Nada é por acaso.

Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que toda quinta-feira vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram na rádio pública do Recife. 

Todas as faixas de entrevistas dos nossos programas estão disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud.).


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