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#TBT101 | Nos 50 anos do hip-hop, a Batalha da Escadaria chega aos seus 15 com potência e conquista

14.12.23 - 09H19
#TBT101 | Nos 50 anos do hip-hop, a Batalha da Escadaria chega aos seus 15 com potência e conquista

(Foto: Suellen Barbosa)

Por Luiz Rodolfo Libonati

“Ali é um quilombo em movimento, tá entendendo? A ideia de criar aquela batalha, ali no centro, é justamente para isso”. Com essas palavras, o fundador Luiz Carlos Ferrer sintetiza a essência da Batalha da Escadaria, espaço de duelo de rimas que, surgido em 2008, completou 15 anos de atividades em 2023. A reunião mensal de MCs histórica, melhor dizendo, até pode começar nos desafios de poético improviso, mas, para quem se envolveu ao longo do tempo, vai além. A partir desse protagonismo cultural no rap, por meio das rimas que denunciam temáticas sociais relativas às vivências negras, alimenta-se especialmente a formação política.

Para ilustrar tamanha força, coincidentemente, a marca dos 15 anos da Batalha da Escadaria veio acompanhada dos 50 anos do hip-hop, movimento definidor da cultura preta popular nos Estados Unidos com nascimento simbólico em 1973. Talvez, na verdade, não tão coincidentemente assim, pode-se dizer. “Os dois precursores do movimento hip-hop no Brasil são pernambucanos. King Nino Brown, que é de Paulista, e Nelson Triunfo, da cidade de Triunfo”, conta Luiz Carlos Ferrer. Para ele, a partir de presenças artísticas como os grupos Radiola Serra Alta (Triunfo) e Cordel do Fogo Encantado (Arcoverde) e a N.I.X MC (Arcoverde), “no nosso estado, é uma potência musical”.

Não à toa, diante do papel artístico e de inclusão social da Batalha da Escadaria para as juventudes periféricas na cultura popular local, à mesma foi cedido o título de Patrimônio Imaterial Cultural do Recife em abril deste ano. Com a formalidade, torna-se ainda mais reconhecida a influência do movimento em diferentes frentes artísticas, seja no rap, na mixagem, no breakdance ou no grafite, todos elementos fundadores do hip-hop.

O tradicional duelo acontece duas vezes ao mês, sempre na primeira e na terceira sextas-feiras, a partir das 20h, em frente à conhecida Banca Roots, no cruzamento central entre a Rua do Hospício e a Avenida Conde da Boa Vista.

Para falar sobre tudo isso, no programa BR-101.5, em setembro, a apresentadora Gabriele Alves recebeu, além de Luiz Carlos Ferrer, a Ranne Skull e o Ninja MC, ambos participantes. Você confere um trechinho do bate-papo abaixo.
 

Luiz Carlos Ferrer: Esses dias, eu estava conversando com um brother que, quando eu vi ele chegar lá, na batalha, com a mãe dele, com a vó dele, com a sogra dele... Ele é a geração dois. Tem a geração do começo. E aí, eu falando com ele esses dias, ele "mano, tá ligado que eu tô casado, tenho um filho e tô morando no Paraguai, mano". Aí ele falou: "mas, assim, eu agradeço muito à Batalha da Escadaria". E o brother já tem disco lançado, como Skull também. Aqui a gente tem  Skull, Dalva, a N.I.X, que é lá de Arcoverde, que a gente tava falando tempo atrás. Tem a Gabis, tem a Eva. Dalva e Eva são de Goiana.

Gabriele Alves: Perfeito! Gente, a diversidade da Batalha da Escadaria! Tem muita mulher participando, a galera do interior do estado também chegando junto, todo mundo muito bem-vindo. E é por isso que são 15 anos, porque essa galera se respeita demais e celebra essa diversidade. E aí, Luiz tá falando aí dessas gerações diferentes. Vamos trazer essa geração que tá aqui, celebrando junto com a gente. Então, vamos falar aqui como é que vocês chegaram. Deixa eu perguntar primeiro a Ranne Skull aqui. Ranne, como é que tu conheceu e chegou até a Batalha da Escadaria?

Ranne Skull: Então, eu sou natural aqui de Recife, só que, quando a minha filha nasceu — eu tenho uma filha de 15 anos —, eu fui morar na Praia da Pipa. Eu entrei no movimento hip-hop e, através do grafite, eu fui a primeira grafiteira da Praia da Pipa. E aí, quando minha filha fez 7 anos, mais ou menos, eu voltei para Recife e fui trabalhar no estúdio de tatuagem, onde os meninos faziam freestyle. E, até então, eu não sabia que eu tinha esse dom de fazer freestyle, porque eu também sou tatuadora — eu sou tatuadora há 20 anos —. E aí, todo mundo fazendo freestyle, brincando e tal, e aí, eu falei: pô, uma batalha de MC, vou tentar. Fui numa batalha de MC que rolava lá no Marco Zero. E, assim, fui a primeira mina a ganhar uma batalha de MC, ali, naquela específica batalha, que nem existe mais hoje em dia.

E aí, depois, eu falei: poxa, e quais as outras batalhas que tem? A galera falou: tem a Batalha da Escadaria. Isso há 8 anos atrás. Nessa época, na Batalha da Escadaria, não rolava nem beat, era tudo acappella. Quando eu cheguei na batalha da escadaria, não tinha outras meninas, porque muitas meninas antes de mim vieram, mas elas não conseguiam bancar o machismo que rolava, porque é muito foda, para uma mulher de origem periférica, chegar no movimento onde é completamente masculino e você tá ali, querendo passar a ideia, querendo mostrar o seu talento, e o cara vai te rebater com o seu cabelo, com o seu físico, sabe, com a sua opção de gênero ou a sua opção sexual, entende?

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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).

 


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