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#TBT101 | Pajubá Tech e a luta pela diversidade no mercado de trabalho

20.06.24 - 13H05
#TBT101 | Pajubá Tech e a luta pela diversidade no mercado de trabalho

Por Mateus Paegle


No Brasil, pessoas travestis e transexuais vivem numa realidade em que não basta o esforço para se capacitar antes de entrar no mercado de trabalho, é preciso também lutar contra uma cultura atravessada pela transfobia. Muitas pessoas transexuais enfrentam ambientes de trabalho hostis, tanto pela falta de representatividade que encontram, quanto pela discriminação explícita.

Segundo pesquisa do Grupo Pela Vidda, que entrevistou homens e mulheres trans e foi divulgada em dezembro de 2022, 52,7% dos entrevistados afirmam ser o único trabalhador transexual em sua empresa e 25,9% afirmam que há entre 2 e 3 pessoas trans em seu local de trabalho. Além disso, 48% conseguiram a vaga por indicação, em muitos casos através de ONG’s e reservas de vagas exclusivas para pessoas trans.

Dentro do contexto de luta por oportunidades iguais e resistência contra o preconceito, foi criada a Pajubá Tech, um empreendimento social de tecnologia e inovação criado em 2022, por Luana Maria, programadora e diretora executiva da empresa. Nascida e criada na comunidade do Ibura, Luana tem 23 anos e atua desde os 17 na área de empreendedorismo social. 

Em suas palavras, a empresa desenvolve “tecnologias sociais que podem solucionar as faltas de oportunidade e informação que a comunidade negra, LGBTQIA+ e periférica sofre em seus diversos espaços, acreditando na potencialidade e criatividade de inovação que a periferia tem.”

Neste #TBT101, lembramos da entrevista de Luana para o programa Calor da Rua, veiculado em 9 de maio de 2024. Confira um trecho:

Janaína Serra: Me fala sobre as frentes de trabalho. Queria saber como que a plataforma trabalha, como atua nesse sentido de inserir as pessoas trans no mercado de trabalho. Vi que vocês também atuam dando apoio às empresas que queiram praticar a inclusão no seu ambiente de trabalho. Depois queria falar também sobre a plataforma para denunciar violências.

Luana Maria: A Pajubá, hoje, a gente se engloba como uma consultoria para diversidade e inclusão em tecnologia e a partir disso nós atuamos em várias frentes. A gente atua na parte do advocacy, que é como a gente cria instrumentos e estratégias para incidir em políticas públicas, na parte de consultoria, diversidade e inclusão, onde a gente pensa junto com a empresa estratégias de diversidade e inclusão. Porque a gente viu que em 2022 aumentou o número de vagas afirmativas para público o LGBT, público racial, PcD, mas quando a gente olha para a população trans, 88%, de acordo com um dado da ANTRA, não se sente confortável em estar trabalhando em sua empresa. Então a consultoria da Pajubá nasce com esse objetivo, que não é só pensar a inclusão dentro dessa empresa é pensar a permanência dessa pessoa trans, para que ela possa estar construindo uma carreira dentro da empresa. Tudo isso nasce também da minha trajetória, porque eu já tive vivências de violências dentro de ambientes corporativos. Outro eixo que a gente trabalha também é levando conhecimento para essa comunidade. O eixo informativo, onde a gente busca estratégias, parcerias e fomentar, trazer essa discussão para essa comunidade e descentralizar a discussão de tecnologia, dar o acesso a tecnologia, levando esse conhecimento para dentro da periferia.

Janaína: Em relação a plataforma para denunciar violências, como que funciona?

Luana: A gente lançou o PajuZap, que é um ChatBot integrado ao Whatsapp, que tem o objetivo de receber denúncias e monitorar os casos relacionados a pessoas trans de Pernambuco. A ideia é que a gente se expanda, mas agora a gente tá no eixo Pernambuco, porque eu gosto sempre de trazer uma das premissas da agenda 2030 da ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), que a gente precisa pensar globalmente, mas a gente precisa agir localmente. O Brasil é o país que mais mata população trans e travesti e, no contexto de Pernambuco, que é o estado que mais tem equipamento lgbt e ao mesmo tempo é o estado que mais matou essa população, então a gente quer entender a realidade dessa população trans e travesti, que não estão acessando os equipamentos públicos da cidade. E como também, podem ser criados, a partir disso, outros mecanismos de acolhimento e acesso a serviços. Inclusive tem uma pesquisa que lançamos, chamada Gênero e Cidadania, que tem o objetivo de entender essas violências direcionadas a essa população e se ela sabe que a violência existe, porque embora a gente viva num contexto em que Pernambuco tem os equipamentos, temos uma população que é desinformada. O mínimo é levar informação. A gente lançou essa pesquisa e depois de uns meses o Pajuzap, a partir de uma metodologia chamada geração cidadã de dados, uma tecnologia do datalab, que é uma organização do Rio de Janeiro, que traz essa metodologia com uma perspectiva de gerar dados. A gente precisa dos dados para gerar políticas públicas. 

Você pode conferir a entrevista na íntegra pelo canal do YouTube da Frei Caneca FM.

EDITAL


Estão abertas as inscrições para a sociedade civil apresentar propostas de programas radiofônicos para compor a grade de programação da 101.5 em 2025. O edital e seus anexos estão disponíveis em nosso site e também no Cultura Recife, onde devem ser realizadas as inscrições. Serão R$ 558.000,00 para apoiar até 31 programas em diversas áreas. O prazo segue até 28 de julho de 2024. 


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