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Combate à intolerância religiosa na programação da rádio pública do Recife

20.01.21 - 17H53
Roger Cipó

Fotografia: Roger Cipó

Por Kauana Portugal

O Brasil é considerado um país laico, ou seja, não possui uma religião oficial. Em teoria, isso quer dizer que é assegurado constitucionalmente que todo cidadão e cidadã possa demonstrar livremente suas crenças e cultos, assim como não existe obrigatoriedade em exercê-los. Apesar disso, a realidade do país - que carrega a complexidade dos sincretismos religiosos desde sua raiz histórica - é marcada por uma série de ataques à liberdade religiosa; acontecimentos que, muitas vezes, também são atravessados por racismo religioso.

Há 21 anos, morria a Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos, vítima de um crime de ódio. Mãe Gilda de Ogum, como era conhecida, teve seu terreiro de Candomblé, o Ilê Axé Abassá de Ogum, localizado em Salvador, na Bahia, depredado por fundamentalistas religiosos, além de ter sofrido agressões físicas graves. A idosa de 65 anos teve um ataque cardíaco fulminante e faleceu no dia 21 de janeiro, data que passou a ser lembrada como o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, pela Lei n° 11.635, de 2007. 

Mais de duas décadas após o atentado, o Disque 100, número de telefone do Governo Federal criado para receber denúncias de violações de direitos humanos, ainda registra uma média de 50 casos de intolerância religiosa por mês, de acordo com dados de 2019. Este número pode ser ainda mais expressivo, já que muitas pessoas não realizam denúncia por medo que o Estado não preste o apoio adequado.

Diante deste contexto, nesta quinta-feira (21), a programação da rádio pública do Recife abre espaço para o combate à desinformação, uma das principais ferramentas de luta pelo fim da intolerância religiosa. A campanha, produzida em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos (SDSJPDDH), deu origem a 5 interprogramas que contam com a participação de diversos líderes religiosos do Estado. 

Entre eles, estão o Padre Clóvis Cabral, presbítero da Igreja Apostólica Romana, Mãe Fátima de Oxum, da Nação Ketu de Matriz Africana, Pai Luís de Xangô, do Ilé Asé Obá Aganju, Paulo Soares, do Centro Espírita Caboclo Oxossi e Vanessa Barbosa, parte do Movimento Negro Evangélico e da Rede de Mulheres Negras Evangélicas do Brasil. 

Produzida por Lorena Fragoso, a seleção musical da 101.5 também aborda a temática. Das 7h da manhã às 18h, com intervalo de 2h entre os blocos, os ouvintes apreciam vozes potentes e representativas como Alessandra Leão, Mariene de Castro, Dona Onete, Otto, Noriel Vilela, Mãe Beth de Oxum, Os Tincoãs, Elza Soares, Serena Assumpção, Martinho da Vila, Marcelo D2 e Lia de Itamaracá.


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