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#TBT101 - AÍLA: Pop Amazônico e Artivismo

16.06.22 - 10H41
#TBT101 - AÍLA: Pop Amazônico e Artivismo

Foto: JR FRanch/Divulgação

Por Johnny de Sousa

Nesses últimos anos, têm se visto um crescimento titânico de ritmos regionais, entre eles o piseiro, o brega funk e o carimbó, fazendo embalar diversas festas Brasil afora e servindo de inspiração para artistas do mainstream. No entanto, a luta pelo reconhecimento artístico do Norte e Nordeste não para nunca, visto que sempre surgem artistas da terra que continuam sendo silenciados pela mídia massificada.

O "Artivismo”, que consiste no uso da arte e do coletivismo para espalhar mensagens de cunho político e social, é uma palavra conhecida por Aíla, cantora e compositora paraense que faz questão de levar luta e autenticidade em suas canções. A apresentadora do BR-101.5, Gabriele Alves, leva todas essas pautas à mesa nesta entrevista icônica com a artista, em que são debatidos ritmos, batalhas e representatividade. 

Gabriele - É bom a gente destacar que fazer arte é uma decisão política. Não é a primeira vez que você aborda o ativismo em suas canções, até porque o seu último disco já veio com um discurso LGBTQIA + e uma linguagem periférica muito fortes. Como é, pra você, construir uma sonoridade baseada nesses aspectos, periféricos e ativistas?

Aíla - Eu nasci na periferia de Belém, em uma comunidade chamada Terra Firme. Basicamente, é uma zona periférica como qualquer outra do país, que carece de muitas coisas, mas que tem uma força cultural muito forte. Sempre ouvi de tudo, desde techno brega às guitarradas mais tradicionais, também sempre tinha carro de som alto passando nos fins de semana, aparelhagens de som que rolavam nos bailes à noite… Então, faz muito sentido, pra mim, criar uma estética de periferia na música que eu faço. A música da periferia é o que dita o pop no Brasil. Todas as tendências mais novas vêm das bordas do país. Então, se eu quis fazer esse disco mais pop e contemporâneo, foi por conta das minhas influências dentro da comunidade.

Gabriele - Aqui em Recife temos uma questão parecida com a popularização do Brega Funk, um gênero periférico, que começou em zonas muito específicas, e que hoje impera de um jeito absurdo. Acho muito bom que, através dos seus ritmos, da sua terra, você consiga se localizar. E ainda mais interessante é ver vários outros artistas pop buscando referência na música amazônica. Queria saber como você se sente ao estar inserida nesse contexto, em que a sua música, do seu lugar, se encontra num momento altíssimo, no quesito de inspiração para outras pessoas. 
 

Aíla -  Então, da mesma forma que Pernambuco teve uma grande ascensão musical por conta do Manguebeat, a música paraense passou por um processo similar, décadas depois. Isso viria a ditar uma cena musical muito forte no início dos anos 2010s, que foi quando Gaby Amarantos lançou o primeiro álbum, Filipe Cordeiro começou a produzir e quando a Dona Onete também lançou as primeiras músicas. Muito se deu por diversas políticas de incentivo, que permitiram a esses artistas criar um som pop por meio da música tradicional paraense, fazendo as pessoas reconhecerem mais o brega, a guitarrada e o carimbó no mainstream. No entanto, ainda tem muita coisa pra ser descoberta, como o samba amazônico, as lambadas produzidas aqui, a cena rap também, que é muito forte… São meio que essas coisas agora que eu tento trazer na minha música, além do que já é conhecido.

Gabriele - Gente, eu sempre bato nessa tecla no programa para vocês lembrarem das políticas públicas que salvam tantos artistas! Quando ouvirem alguém reclamando disso, lembrem-se que lançamentos musicais, como os de Aíla e de tantos outros que já passaram por aqui, só foram possíveis por conta de leis em favor da produção cultural. Afinal, cultura é um direito humano. A gente tem que lembrar que arte é feita em nome de um bem estar maior, né Aíla? 

Aíla - Nossa, total. Eu lembro que o que nos salvou na pandemia foram as lives, sendo elas a única opção de entretenimento enquanto a gente tava trancado em casa. Aliás, precisamos sempre reforçar que o que nos salvou na pandemia foram as artes, né? Música, filme, livro… A arte é uma necessidade básica da gente, é que nem água. Todo mundo deveria, se possível, aprender algum instrumento quando criança, ter música em casa desde cedo, fazer aula de teatro, porque isso importa muito pro nosso crescimento. Tem uma música que eu canto, em que eu digo “Todo mundo nasce artista, depois vem a repressão”. Eu acho que todo mundo é meio artista e pode fazer arte em sua respectiva área da vida, pois o fazer artístico é esse grande respiro que a gente deve ter. 

Ao longo da conversa, Aíla discorre sobre toda a produção por trás da sua imagem como artista, mostrando que essa vida vai muito além de somente subir num palco. A cantora ainda mostra que, por trás de todo o glamour do trabalho final, é preciso pensar detalhadamente em cada conceito a ser abordado, fazendo a sua correria diária ser muito maior, porém mais criativa e prazerosa do que nunca. 

Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram no programa BR-101.5 da rádio pública do Recife. 

Todas as  entrevistas do BR-101.5 estão disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud.).

Vem de carona com a gente pelas estradas da cultura!

 

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