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#TBT101 | O violão e a literatura no rastro de Cátia de França

04.04.24 - 10H09
#TBT101 | O violão e a literatura no rastro de Cátia de França

(Cátia de França. Foto: Murilo Alvesso)

Por: Luiz Rodolfo Cavalobo

No comecinho do mês de fevereiro, em meio às apresentações musicais abertas que agitaram o público presente na 11ª edição do festival Porto Musical, pelo bairro do Recife Antigo, a gente conheceu e ouviu muita gente boa. E também estivemos junto a verdadeiras lendas da música brasileira. Foi o caso da cantora e compositora Cátia de França.

Na ocasião do evento, a paraibana, cuja trajetória de vida se conecta intimamente com Pernambuco, representou, para os novos artistas em processo de se lançar, vigor artístico e criativo sem igual. Apresentou ao grande público repertório abastecido dos forrós, cocos e blues da vasta carreira musical, além de trazer duas faixas inéditas. Tudo isso, também, para celebrar a chegada dos 77 anos de vida.

Por isso a gente relembra a breve conversa da apresentadora Gabriele Alves, do programa BR-101.5, com Cátia de França. Abaixo você confere um trechinho.

Gabriele Alves: Cátia, você falou agora que é professora e não exerce, mas é professora, foi professora por muito tempo, e está se apresentando hoje numa feira de música que tem essa proposta de ensinar aos artistas vários passos dentro da carreira. Qual é a importância para você de estar dentro de um evento como esse, como o Porto Musical?

Cátia de França: Ah, aí não foi por acaso, não. Isso é coisa das digitais, chamar a pessoa certa que fez de toda a trajetória um testemunho disso. Então, é daquela coisa de abrir a porteira, ouvir o que tem que ser feito, porque a gente tem que entender que um só não faz verão, entendeu? Tem que ser mandalas culturais. Assim como as formigas quando tem as grandes cheias no pantanal, se uma ficar isolada, se afoga, mas se fizerem uma mandala, muitas de mãos dadas, elas boiam e todo mundo se salva. Isso é a cultura deste Brasil atual.

Gabriele Alves: A gente estava ali, assistindo a você passando o som, e eu vi que você beija o violão quando vai colocá-lo no peito. E eu sei que o seu instrumento é o piano, começou no piano, mas você ainda toca sanfona, flauta, percussão. E o violão, que apesar de ser o piano o seu instrumento, é o violão que lhe acompanha, né?

Cátia de França: É, isso. Porque violão é fácil de carregar, piano… A minha mãe me mandou para um colégio interno em Pernambuco de 1962 a 1966. Eu com 15 anos, voltei com 19. Ali em Lagoa dos Gatos, Palmares, Água Preta, Belém de Maria, eu estudei ali, num colégio evangélico. Então, não tinha como levar piano. Então, o vilão é que foi e, hoje em dia, eu devo ser metade, um centauro. Metade mulher, metade violão.

Gabriele Alves: Por isso o respeito e o carinho com o instrumento.

Cátia de França: É, eu beijo, porque é graças a eles que eu pago o meu aluguel, o meu feijão com arroz. Eu ainda passo por isso tudo, essa preocupação. Aumentaram a gasolina, vai mexer em tudo, entendeu? Então, a gente tem que consertar o Brasil.

Gabriele Alves: Ser artista é estar atento a tudo isso.

Cátia de França: É, não é só ficar numa rede, numa ilha paradisíaca, comendo caviar. Não. A minha história é com carne de charque mesmo, é rapadura, é pé no chão, é sandália de rabicho, é Lampião e Maria Bonita.

Durante o bate-papo, que foi rapidinho, mas precioso, Cátia, nome artístico de Catarina Maria de França Carneiro, falou ainda sobre a mãe, a professora Adélia de França, “a primeira negra a ser educadora na Paraíba” e cujo gosto pela literatura terminou por garantir o conhecimento literário que viria a ser a sua grande base artística. Outros assuntos guiaram a conversa, como o novo álbum de inéditas, “No Rastro da Catarina”, registro antológico intitulado em referência a Lampião e contendo até mesmo letras compostas durante a adolescência da cantora e compositora.

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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. O #TBT101 é uma coluna em que, toda quinta-feira, vamos relembrar entrevistas e programas massas e importantes que já rolaram na programação da rádio pública do Recife.

Todas as  entrevistas ficam disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud, além do YouTube).


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