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#TBT101 - A importância do frevo inclusivo

26.05.22 - 19H19
Paço do Frevo

Foto: Andréa Rêgo Barros


Por Johnny de Sousa


O conceito de audiodescrição tem sido debatido com constância, desde que pautas sociais variadas têm entrado como principal assunto em diversos meios abertos para as novas gerações. Este recurso consiste na permissão para pessoas com deficiência visual de entenderem melhor o que acontece ao seu redor, desde filmes, espetáculos ou, nesse caso, dança.

No início de 2022, a pilota do BR-101.5, Gabriele Alves, chamou os criadores do projeto “Frevo às Cegas" para uma conversa mais do que necessária sobre o tópico de acessibilidade no mundo da arte, que têm ganhado atenção em eventos e festivais nos últimos anos, mas não pode jamais ser deixado de lado. O projeto foi criado no museu Paço do Frevo, tendo por objetivo explicar e descrever os mais variados paços de frevo para pessoas cegas.

Gabriele - Gente, tá muito especial isso aqui! Convidamos, literalmente, nossos vizinhos, Danielle França e Jefferson Figueiredo, do Paço do Frevo para um papo mais que especial sobre acessibilidade artística. Pra quem não sabe, esse museu lindo fica aqui do lado da Rádio Pública do Recife, Em frente à Praça do Arsenal. Mas enfim, vamos ao assunto principal… Danielle, conta pra a gente como se iniciou o projeto “Frevo às Cegas”?

Danielle - Primeiramente, o projeto visa criar um glossário, com audiodescrição, de um grupo de passos de frevo. A ideia surgiu em 2018, quando eu fui chamada pra fazer a audiodescrição de um espetáculo de frevo chamado “Entre Ruas”, que por si só contava a história da dança aqui em Pernambuco. Enquanto eu me preparava para descrever o show, eu percebia a complexidade dessa tarefa, pois era preciso falar de mais de quatro passos dados ao mesmo tempo (risos). Então, enquanto o público comemorava e aplaudia um passo mais acrobático, os passistas já estavam dando outro, e mais outro. Tudo era muito passível de perda de informações para pessoas cegas, então eu precisei adaptar minha descrição para que todo tipo de pessoa entendesse o que eram os passos de frevo. Me reunindo com outros audiodescritores, eu pude pensar numa forma de descrever esses passos antes do espetáculo e na hora que estivesse acontecendo, apenas dizer os nomes. Levando isso pra frente, eu comecei a dar aulas para as pessoas interessadas em saber desses passos, não só deficientes visuais, mas qualquer indivíduo que estivesse apenas curioso.

Gabriele - Eu queria saber de você, Jefferson. Como você entrou nessa história, sendo passista e professor há tanto tempo?

Jefferson - Eu cheguei no projeto a convite de Dani, que precisava de alguém que ensinasse a dança, em si, no meio das aulas. Eu ensinaria não apenas os passos, mas os contextos sociais, históricos e geográficos que favoreceram a manutenção da dança de maneira tão forte até hoje. Quando nos reunimos para debater sobre as aulas, nós pensamos em quais passos fariam mais sentido serem explicados nesse contexto, quais histórias valiam a pena serem contadas no momento, mas foi debatido, acima de tudo, como a gente explicaria tudo isso num contexto inclusivo. Eu me coloquei no rolê do desafio, para me incentivar a colocar os meus saberes de frevo diante desse entendimento mais democrático, que é a audiodescrição. Nesse meio, a gente aprende a sair de padrões que são impostos o tempo todo e não percebemos o quão exclusivos eles podem ser para certas pessoas. Tem sido muito importante pra mim ter essa percepção, tudo graças à esse projeto.

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Ficou a fim de escutar a entrevista na íntegra? Clica aqui pra conferir. Lembrando que o #TBT101 é uma coluna em que toda quinta-feira vamos relembrar entrevistas massas e importantes que já rolaram na rádio pública do Recife.

Todas as faixas de entrevistas do BR-101.5 estão disponíveis na sua plataforma de streaming favorita (Spotify, Deezer, Castbox, Google Podcasts, Anchor ou Mixcloud).

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