
Da esquerda para a direita: Pajé Juruna, Cacica Kyalonan e Priscila Xavier. (Foto: Equipe Frei Caneca)
Por Guilherme Ribeiro
O Dia Internacional dos Povos Indígenas, instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) no dia 9 de agosto 1995, é um marco na valorização e no reconhecimento da importância sociocultural dos povos originários ao redor do mundo, chegando a substituir a comemoração do Dia de Colombo - data celebrada principalmente nos Estados Unidos que celebrava a chegada do escravista e navegador Cristóvão Colombo à América. Apesar de uma movimentação nos últimos anos pela preservação histórica desses povos, com a criação de leis e a inclusão deste tema no debate público, ainda é evidente a situação de invisibilidade enfrentada por essas comunidades, bem como a descriminação sofrida por eles tanto em suas terras, quanto em ambientes urbanos.
E neste último #TBT101 especial Abril Indígena, relembramos a edição do programa Calor da Rua do dia 9 de agosto de 2024, apresentado por Priscila Xavier, no qual foram debatidos os desafios enfrentados pelos povos indígenas e o que ainda deve ser levado em consideração para garantia de direitos. Para esta edição, o Calor da Rua convidou o coordenador do Núcleo de estudos sobre Etnicidade e professor do departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Renato Athias, a Cacica Kyalonan e o Pajé Juruna, ambos do povo Karaxuwanassu de Abreu e Lima.
Confira um trecho da conversa:
Priscila Xavier: Então, eu queria que vocês pudessem falar um pouco cacica e pajé, o que essa data representa para vocês (...) queria ouvir um pouco desse recorte, especificamente do povo Karaxuwanassu, que é da Região Metropolitana do Recife. Qual seria o panorama que o povo de vocês tem sobre o tema? Depois quero ouvir a opinião do professor Renato em relação a data.
Cacica Kyalonan: (...) Estamos numa retomada ancestral e histórica de indígenas em contexto urbano, e que agora está localizada em Igarassu. Retomada em questão da terra, onde fomos guiados para lá pelos nossos encantados (...) e continuamos nesse enfrentamento para poder retomar o que é nosso, a gente tem isso como ênfase de finalmente voltar para nossa terra. Então todo esse processo tem causado diversas divergências com o povo local (...) que pensa que não somos indígenas por estar em contexto urbano, e tentam invisibilizar e apagar toda nossa luta.
Pajé Juruna: É uma data bastante importante que é celebrada por muitos povos indígenas, que nesse momento se reúnem em Brasília para fazer a Marcha dos Povos Indígenas, mas nós não comemoramos nenhuma data específica, mas usamos ela para lembrar da nossa luta e mostrar a sociedade que ainda existimos. Tanto que o dia 19 de abril foi criado no período da ditadura para celebrar a morte dos povos indígenas, inclusive foram criados presídios para prender indígenas, nisso foram mais de 8 mil mortos. Por isso estamos nessa resistência, fazendo a nossa ressignificação. (...) Ressignificamos também que hoje não é só o dia, como a semana dos povos indígenas, que vai do dia 9 a 15 de agosto, onde tentamos falar sobre nossa cultura, nossa história para todos aqueles que ainda desconhecem a luta dos povos originários aqui em Pernambuco e no Brasil. Somos o quarto estado que mais têm indígenas, mas ainda vemos, por exemplo, nas escolas que ainda se fala muito do “índio”, então ainda tem muita coisa para ressignificar.
Renato Athias: Em termos numéricos, o estado de Pernambuco tem 106 mil pessoas indígenas morando no estado, e de acordo com o censo do IBGE de 2022, a capital Recife tem cerca de 50 mil, então é uma população significativa e que, não só está sendo reprimida de seus direitos por saúde, educação, questões relacionadas a uma economia mais igualitária, mas também de suas terras. A situação em Igarassu fala muita coisa para nós, porque o território que está sendo retomado é um território ancestral, é uma área onde muitas histórias passam por lá. (...) Então celebrar os povos indígenas é celebrar também a questão da terra, que é necessária, mas também celebrar a vida, portanto contra essas violências que acontecem continuamente contra os povos indígenas não só no estado de Pernambuco mas em outros estados.
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Confira essa entrevista na íntegra através do nosso canal no Youtube. Toda quinta-feira publicamos a coluna #TBT101, onde o ouvinte relembra entrevistas importantes que a 101.5 trouxe na grade de programação.
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